Uma viagem de 120km começa com um pequeno passo. E assim foi, por ruelas e calçadas, por campos e trilhos rumo a Santiago de Compostela.
Sem preparação alguma, apenas com uma enorme vontade em querer conhecer o místico caminho.
Nesta jornada, o desapego foi um dos fatores mais marcantes.
Entre os vários bens materiais que vamos adquirindo com o tempo, apenas era importante o essencial, produtos de higiene, roupa, e pouco mais. Isto seria o peso da minha bagagem e quanto mais coisas desnecessárias ai coloca-se mais desafiante seria o percurso.
Entre a noite e o dia, o sol e o orvalho, a mochila estava sempre lá. Não fosse esta literalmente a minha bagagem.
Os dias iam passando, as dores musculares aumentando, e a mochila pesando.
Até que surge aquela reta sem fim, aquela que me lembro como se fosse hoje e no entanto já lá vão 5 anos. Para acréscimo, os 40 graus faziam-se sentir a uma grande amplitude.
Os desafios estavam todos lá, tal como hoje na minha vida.
E tal como hoje, o pensamento e a minha postura era e é de “Está tudo bem, tudo vai passar”.
Costuma-se dizer que quando somos mais novos parece que tudo está ao nosso alcance e que tudo é possível.
Provavelmente isso acontece porque de facto quando somos mais novos, não temos tantas crenças limitantes e na nossa bagagem levamos apenas o essencial, aquilo que nos faz bem e que nos traz equilibro para a nossa vida.
Com o passar dos anos, esta bagagem fica atulhada de situações por resolver, relacionamentos tóxicos e bens materiais desnecessários.
A jornada é isto mesmo, se ao longo do trajeto percebermos que algo já não faz sentido para nós, é fundamental deixar ir, desapegar de algo que já não nos acresce nada. Seguindo sempre os sinais que surgem ao longo da caminhada.
Santiago de Compostela, trouxe-me mais discernimento, gratidão e um sentimento de superação que levo para toda a vida. Proporcionou-me ainda experiências únicas e acima de tudo permitindo-me ser o melhor de mim etapa a etapa.