Confesso que levei algum tempo para tomar a iniciativa de escrever este texto. Não pela falta de vontade, mas pela difícil tarefa que é gerir o tempo nos últimos meses.
A quarentena ajudou, confesso. E se há pontos positivos no meio de toda esta privação, a gestão do tempo é uma delas. No meu caso deu-me liberdade noutro sentido: aproveitar cada fase da minha filha. Em dois meses aprendeu a sentar, a bater palminhas, a acenar (ainda que sem coordenação), já identifica as pessoas mais próximas, já tem dois dentinhos e é dona de uma curiosidade e perspicácia sem fim.
Quantos pais teriam este privilégio? No meio de tantos receios e incertezas sobre o que nos espera, a quarentena deu-nos tempo para nos conhecermos ainda melhor. E só por isso podemos estar gratos. Porquê escrever este texto e de que forma o fazer? A proposta foi lançada sob o título: “Sou mãe e agora? “. Bem, a resposta é: sou mãe porque quero. Sempre quis ser mãe relativamente cedo. Desde que me conheço. Felizmente consegui concretizar esse meu desejo, como tenho conseguido outros tantos aos poucos e com alguma força de vontade.
Na vida, nunca temos certezas absolutas. O medo de falhar, de não ser capaz ou de pensarmos que não temos meios para, faz-nos tantas vezes recuar. Desta vez não recuei. Para quê esperar para ter mil e uma certezas e no fim não ter certezas de absolutamente nada? Decidir arriscar. Essa foi a minha certeza.
Acho que quando queremos muito alguma coisa, podemos sonhar e permitir-nos concretizar.
E este foi o meu sonho concretizado: ser mãe da minha pequena Clara. E, por muito cliché que possa ser, não podia ser mãe de mais ninguém nesta fase da minha vida.
O tempo encarrega-se de nos dar aquilo que realmente precisamos e é tão bom quando finalmente percebemos que não precisamos de muito.
A chegada da Clara, permitiu-me ver “o copo meio cheio”. Aquele que muitos levam uma vida inteira para ver e outros tantos morrem sem saber. Ser mãe tem sido, sem dúvida, o mais bonito projeto da minha vida. Aquele que me faz querer ser melhor todos os dias. Que me traz uma paz e calmaria que pensava não existirem em mim. Contudo e, na minha opinião , para ser mãe, é importante estar-se dotado de alguma paciência, vontade e capacidade de amar muito para além de nós mesmos. Ser mãe é maravilhoso, mas desafiante, principalmente, no que toca ao cansaço. É um trabalho árduo, diário e exigente. Não posso, de todo, ser hipócrita ao ponto de dizer que todos os meus dias são um mar de rosas, porque não é verdade.
Honestamente, não me consigo lembrar das ultimas oito horas de sono seguidas que dormi, mas certamente que não foi nestes últimos oito meses. A tua disponibilidade passa a ser, inevitavelmente, a disponibilidade da tua filha: comes depois de ela comer (tantas vezes já fria), dormes depois de ela dormir, amamentas noite fora e tantas outras coisas que privas em ti em função da dependência do teu bebé para contigo. E claro que continuamos a ter de preservar a nossa vida antiga: trabalhar, desempenhar tarefas domésticas que parece que se multiplicam e aparecem de não sei bem de onde.
E quando o assunto diz respeito ao teu bebé estar doente? Sentes uma impotência infindável e percebes que não és capaz de proteger o teu bebé de todos os perigos e de o ter sempre na tua alçada. É teu, mas também será do mundo e às vezes aceitá-lo é uma verdadeira prova de fogo.
Ser mãe é viver com o coração fora do corpo. Nunca nada me fez tanto sentido.
E a paciência é testada ao limite. E tu acabas por exercitá-la (e tantas outras vezes perdê-la). Felizmente relato isto com naturalidade e com um sorriso no rosto.
Todo este cansaço resulta da minha entrega total, da vontade que eu tenho de ser o pilar da minha filha e de um dia ela saber que me pode procurar e que eu vou estar lá sempre para ela, “faça chuva ou faça sol”. Há dias o pai dizia : “a tua filha gosta muito de ti! Olha para o olhar doce dela a olhar para ti”.
Na verdade sei disso quando ela se desdobra em mil sorrisos e retribui o meu amor em gargalhadas. Quando se aconchega nos meus braços, quando se acalma com o contacto pele a pele das nossas bochechas ou do nariz com nariz. Quando os meus beijinhos a mimam e a deixam tímida. No entanto, bem sei, que o amor do pai pela filha e pela mãe também contribui para esta bonita história de amor. Não há duas, sem três. A minha Clara é a luz que faltava na minha e, acredito, nossa vida. A mim tornou-me mais forte, mais otimista e reforçou a minha auto-estima. Em nós, tornou-se o propósito e a certeza que o nosso amor viverá para sempre.
Olá Mafalda. Está a fazer precisamente um ano que nos conhecemos na formação de Inteligência Emocional e aprendi muitas coisas contigo. Na altura da nossa formação, revelei no primeiro dia que seria mãe de um menino. Lembras-te? A minha gravidez fez-me verter muitas lágrimas durante a formação. Não eram lágrimas de tristeza… Mas de pensamentos bons e felizes. Bem, o que é certo é que também conheci a Cristiana. Fomos tomar café pela primeira vez, uma semana antes da Clara nascer. A Clara nasceu numa quarta e o Salvador nasceu na quinta feira da semana seguinte. Ficamos amigas e até temos um grupo no face onde trocamos ideias com outras mamãs de Setembro. Vejo-me refletida neste texto porque também vivi experiências com o Salvador que, por certo, não viveria se ele estivesse na creche. Por isso, obrigada Mafalda e Cristiana pela partilha deste texto.
Beijinhos às duas
Olá Marisa. Como não lembrar quando nos partilham algo tão incrível como o futuro nascimento de um filho. Espero que o por aí por casa esteja tudo bem.
Fico muito feliz por unirem forças e trocarem ideias com outras mamãs, assim podem crescer em conjunto, partilhar angústias e serem mães mais conscientes. Continua a espalhar amor e alegria pelo mundo.
Um beijinho grande do fundo do ♡