Para mim essa palavra sempre teve outra conotação. Sempre significou luta, coragem, força de viver, vitória… É assim que eu vejo as pessoas que enfrentam esta doença.
Esta minha “definição” ganhou ainda mais força depois que o meu mundo “desabou” ao ser diagnosticado ao meu pai, cancro na garganta.
Até ser efetivamente diagnosticada a doença e iniciar os tratamentos, ele perdeu bastante peso uma vez que não conseguia comer. Passou a ser alimentado por uma sonda diretamente pelo estômago. Após os tratamentos de rádio e quimioterapia, teve uma recaída grave em que chegamos a pensar que não iria sair do hospital com vida (foi-nos aconselhado a aproveitar todos os momentos com ele, pois poderia não recuperar). A minha mãe deixou de trabalhar para o poder acompanhar em tudo, visto que ele na altura não tinha autonomia nenhuma.
Hoje, passados mais ou menos 5 anos está recuperado (dentro dos possíveis) e é um exemplo de força de viver e coragem para quem o conhece… Aquela pessoa que antes uma dor de dentes já estava a morrer, mostrou que com vontade de viver e com o apoio da família e amigos tudo é possível, tudo se consegue.
Abaixo deixo em forma de entrevista a visão dele (que também é a minha) sobre esta doença que tanto tememos…
– O que é que sentiste quando os médicos te disseram que tinhas cancro?
R: Pensei no pior. Se tinha ou não cura. Quando os médicos me disseram que iam fazer tudo para que me curasse, passei a acreditar que seria possível, que tinha cura e que com a ajuda médica iria conseguir.
– Como encaraste os tratamentos?
R: Os tratamentos foram um bocado difíceis, mas encarei sempre bem porque queria ficar bom. Além disso era para mim, mais ninguém os podia fazer por mim, por isso nunca pensei em desistir, pelo contrário, estava sempre disposto para ir e lutar. Só havia essa maneira de melhorar, não tinha outra solução.
– Deixaste de comer pela boca e passaste a comer por uma sonda. Tiveste que colocar uma cânula na garganta para te ajudar a respirar. Alguma vez te incomodou os olhares das outras pessoas?
R: Não, nunca me fez diferença. Faz parte da doença e pode acontecer a qualquer pessoa. A única coisa que me fazia mais diferença eram as crianças que ficavam muito admiradas a olhar para mim.
– Onde foste buscar força e coragem?
R: À família, à equipa médica, aos enfermeiros e auxiliares que me acompanharam em todo o processo e que sempre foram fantásticos comigo. Sempre acreditei que ia ficar bom. O apoio da família e amigos e a vontade de viver contam muito neste processo.
As equipas médicas fazem os possíveis (e muitas vezes os impossíveis), mas se nós (doentes) não ajudarmos eles não conseguem nada. Tudo depende de nós e da nossa vontade de viver.
– O que mudou na tua vida?
R: Mudaram os hábitos, desde a forma de comer (que deixou de ser pela boca e passou a ser pela sonda) até à forma como vemos a vida e encaramos os problemas. Deixei de poder fazer algumas coisas, por isso tive que encontrar outras para fazer, estar parado é que não, até porque parado acabamos por ficar a cismar com a doença e isso só vai piorar. Felizmente estou bem, posso sair e fazer o que quero. Há tanta gente bem pior que eu, que não pode mexer-se ou sair, tanta gente bem mais debilitada que eu.
Aprendi que devemos aproveitar a vida o melhor que podemos.
Todos precisamos uns dos outros e perdemos tanto tempo com coisas e disputas que não têm importância nenhuma, esquecemo-nos que a vida é demasiado curta. Hoje estou bem e não preciso de ninguém, mas amanhã a vida prega-me uma partida e fico dependente das outras pessoas. Nunca pensei vir a depender de médicos ou enfermeiros e se não fossem eles a ajudar-me não estaria cá. Nunca pensei precisar de alguém para me levar às consultas e tratamentos por não poder conduzir e tantas vezes precisei. Felizmente sempre tive quem estivesse ali disposto a ajudar-me.
– Encaras um novo tratamento agora. Como reages a isso? Quais são as expectativas?
R: Encaro com esperança e coragem. Um já foi e este também será ultrapassado. Não podemos ter medo. Apenas acreditar que vai tudo correr bem… A palavra cancro nunca me disse nada, para mim é como outra doença qualquer, que tem que ser combatida e vencida com força, coragem e esperança. Acreditar que vai correr bem, ter fé, com a nossa força e vontade de viver ajudarmos os médicos a fazerem o trabalho deles e com o apoio da família e amigos (que conta muito) tudo se ultrapassa…
Para mim esta perspetiva de vida serve não só para a saúde, mas para tudo na nossa vida. Se acreditarmos e lutarmos por aquilo que desejamos, seja saúde, amor, trabalho…. Iremos sempre conseguir.