A Mafalda perguntou-me como é que cheguei onde cheguei, e como é que lá cheguei.
Para vos contextualizar, não vos vou falar de um percurso de mérito, nem tão pouco que tenha atingindo um status acima da média.
A única razão para vos escrever hoje, a convite da Mafalda, é por que estou a fazer o que gosto, o meu hobbie de adolescência, que é hoje a minha profissão.
Oiço o meu Pai a perguntar, constantemente, se já arranjei trabalho e todos os dias tenho de lhe dizer que isto é o meu trabalho.
A convicção com que lhe digo que este é o meu trabalho é a mesma que me faz duvidar sobre a decisão que tomei. Será que foi acertada? Não teria sido mais fácil ter um emprego que desse continuação à licenciatura, com horário fixo e um salário certo ao fim do mês?
Por outro lado, percebo que trabalhar por conta própria tem as suas vantagens, sou dono do meu próprio tempo, posso passar dez horas ou mais a fazer o que gosto, e ninguém me diz o que fazer. Malcolm Gladwell tem uma teoria que diz que se dedicarmos dez mil horas seja a que área for, vamos entrar nos melhores do mundo dessa mesma área.
Há uma certa verdade nesta teoria, as minhas dez mil horas já passaram há algum tempo, no entanto não estou nos melhores do mundo, mas também não acho que seja dos piores do mundo. Quero com isto dizer que é importante dedicarmos a nossa vida a algo, se realmente queremos fazer a diferença, temos de focar bem o nosso objetivo.
Apesar disso, há um conjunto de outros fatores que influenciam o nosso caminho, além as 10 mil horas de trabalho. Começando pelas pessoas que se cruzam conosco, no meu caso sinto que o meu percurso foi influenciado por muitas pessoas, e todos elas o fizeram de diferentes formas, mas todas tiveram a sua importância, desde o Pedro, ao Fernando, ao Nuno, à Carlina, ao Tiago, à Daniela, à Marta, ao David, ao Vítor, ao Zé, à Liliana, ao Luís, à Cláudia, ao Aires, o Meireles, à João, e ao Marco, entre outros, as influências de quem me rodeia acabam por definir a pessoa, e artista, em que me tornei.
Atrevo-me a dizer que eu sou um pouco de todos eles.
Quando me perguntam se tenho algum vício, a única resposta que me ocorre é: Sim, sou viciado em pessoas! Sou fascinado por conhecer pessoas novas, com feitios, conhecimentos e formas de pensar diferentes, porque sei que vou “beber” do conhecimento delas, e quantas mais conhecer, mais vou crescer intelectualmente, e melhor vou ser.
Para mim, a vida resume-se aos eventos emocionais que nos marcaram, se tentarmos fazer uma viagem mental no tempo vamos lembrar-nos dos momentos que tiveram um impacto emocional em nós (positiva ou negativamente), e todo o trabalho que desenvolvi até hoje está ligado à minha vida, a esses acontecimentos, dái ser tão importante para mim conhecer pessoas, para alimentar a minha imaginação, que por sua vez vai alimentar o meu trabalho, a minha forma de ser e pensar.
Uma aprendizagem neste processo foi trabalhar em áreas que, de certa forma, tinha medo de experimentar, pelo simples facto de não saber como o fazer.
Por exemplo, sempre gostei de pintar, mas não sou pintor, sempre gostei de escrever e não é por isso que sou escritor. Mas sempre que o faço algo que vai além da minha zona de conforto aprendo algo, e essa aprendizagem ao longo de vários anos, cheios de falhanços e de alguns sucessos, enriquece o nosso caminho.
Alguém uma vez disse, se copiares uma pessoa és um imitador, se copiares 10 és autêntico. Tudo porque muitas vezes queremos esperar para fazer o trabalho perfeito e, sabendo que temos uma forte referência de alguém temos medo de cair na imitação. Por exemplo, o Picasso começou a sua vida com a ambição de pintar o quadro “perfeito”, inspirou-se nos seus “idolos” e foi muitas vezes acusado de estar a imitar outros estilos. Mas se ele tivesse esperado a vida toda para apresentar um quadro que fosse o seu estilo, a sua obra prima, talvez nunca se tivesse tornado um dos pintores mais aclamados da sua época. Não nos adianta tentar fazer apenas para acertar, devemos continuar a fazer mesmo correndo o risco de errar. Se ele tivesse pintado apenas um quadro em toda a sua vida, mesmo sendo o quadro “perfeito”, provavelmente, hoje nem saberíamos quem ele era.
Esta é a nossa viagem, e no fim de contas somos todos pessoas que caminham para o mesmo sítio, seres que vão acabar todos iguais, todos sem nada, num espaço preto e vazio. Isso é o que nos espera. Se não fizermos a viagem valer a pena, daqui a cento e cinquenta anos ninguém se vai lembrar de nós, ninguém vai saber quem fomos, e será como se nunca tivéssemos existido.