O meu nome é Diana Pimenta, tenho 27 anos, sou natural de Fajões – Oliveira de Azeméis, advogada de profissão, e considero-me essencialmente uma apaixonada pela vida, procurando a cada instante viver e absorver todas as experiências que ela me pode proporcionar.
Há cerca de um ano e meio vivi uma das experiências mais maravilhosas que a vida já me proporcionou e é dela que venho aqui falar.
Em Agosto de 2018 permaneci um mês em Calumbo, uma cidade angolana pertencente à província de Luanda, apelidada por aqueles que lá passam como “um pedacinho de paraíso na Terra”.
Parti em Missão, enviada pelo Voluntariado Passionista, um grupo que nasceu da união entre os Missionários Passionistas de Santa Maria da Feira e a Rosto Solidário, uma organização não governamental para o desenvolvimento, situada nas mesmas terras de Santa Maria.
Feitas as apresentações, começo por fazer um aviso: não me encarem com admiração nem olhem para mim como uma europeia caucasiana formada que foi fazer caridade para Angola. Não é disso que se trata este texto.
Este é o testemunho de alguém que foi abençoada com uma oportunidade única na vida; a chance de conhecer novos horizontes e aprender com pessoas que nem sempre são cultas, mas que nunca deixam de ser sábias.
Fui para Calumbo com outras três missionárias – a Catarina, a Inês e a Vera – lá, tínhamos a função de organizar e revitalizar a biblioteca, baptizada pelos locais como “Imbondeiro do Saber” em homenagem a uma das mais belas árvores africanas.
Ao mesmo tempo, iniciamos um projecto na prisão do Kakila – criação de uma biblioteca para os reclusos, organização de palestras, realização de consultas de optometria e leccionamento de aulas.
Eu dei aulas de Inglês a uma turma de reclusos e a uma turma de agentes prisionais, quase todos sem qualquer instrução nesta área. Ensinei números, cores, e verbos – aprendi que todos podemos errar mas que não são esses erros que nos definem, pois todos merecemos uma segunda oportunidade quando lutamos por ela.
Fui respeitada e valorizada, nunca senti qualquer perigo nem constrangimento – os meus alunos, pela manhã iam para a aula de sorriso rasgado, cheios de vontade de aprender e com um sentimento de gratidão. Gratidão por durante umas horas se abstraírem dos muros que os rodeavam mas acima de tudo gratidão por sentirem que existiam, que eram importantes e que várias pessoas estavam ali por eles, disponibilizando-lhes o seu tempo e a sua dedicação.
Nas horas livres visitávamos as comunidades locais, assistíamos às suas celebrações e éramos devidamente apresentadas. Logo nos chamavam de “Mana” pois a verdade é que de imediato nos tratavam como família – éramos integradas e acolhidas, ali todos éramos iguais e na hora de rir e dançar ao pôr-do-sol não interessava de onde vínhamos nem aquilo que tínhamos.
Durante esse mês habitamos no Seminário dos Passionistas de Calumbo, e aí tive a maior lição daquilo que é viver em comunidade. Todos tínhamos as nossas tarefas, mas no final do dia, reuníamo-nos à volta da mesa, longe do som das televisões e dos ecrãs dos telemóveis – havia espaço para todos e para cada um. Era tempo de reflexão, de cada um contar o seu dia e de todos serem escutados.
Os deveres nunca eram esquecidos mas sobrava sempre espaço para brincar, jogar, cantar ou demonstrar afectos. Éramos extremamente mimadas, fosse com um docinho especialmente preparado para nós, fosse com um passeio à beira-rio para nos demonstrarem o que de mais belo ali existia.
Vim de Angola com o coração cheio, com o imenso desejo de lá voltar e com 3 grandes lições que permanecerão gravadas em mim para sempre:
– “Quando o ímpeto da viagem soar mais alto que o ímpeto do sofá, não o ignores”. Quero com isto dizer que tudo é possível e que o mais difícil é mesmo começar. Há anos que dizia que queria ir em Missão e sempre fui adiando o sonho por pensar que as obrigações da vida não o permitiriam, mas quando realmente decidi que era isso que queria, fui. As pessoas por vezes perdem grandes oportunidades por mero comodismo, quando são exactamente estas experiências que embelezam a nossa existência.
– Gratidão: não deixa de ser “cliché” mas ver pessoas descalças, apenas com arroz no estômago, sorrindo e perguntando “estás bem?” faz-nos reflectir sobre o quão afortunados somos e faz-nos dar valor àquilo que temos. A nossa Missão no mundo, passa sem dúvida por partilhar aquilo que de melhor nos foi dado, e que no meu caso, como certamente no de todos vocês, é tanto!
– A terceira e maior lição que retirei da minha Missão foi-me transmitida pelos próprios Angolanos. Na maioria dos casos, falta-lhes conhecimentos sobre línguas, medicina ou direitos humanos, contudo sobra-lhes humanidade e humildade. Devido ao país onde nasci e à educação que me foi proporcionada, tive a oportunidade de aprender inglês, portanto fui tentar transmitir o meu conhecimento. Em troca, aprendi grandes lições de vida e vivi momentos que jamais equacionei viver. No fundo é disto que se trata, de uma troca. Partilhamos o que temos e recebemos o que nos falta. No final de contas, compreendemos que tudo é igualmente importante e que necessitamos de todos os factores para atingir o equilibro. Ninguém é superior, ninguém é inferior, todos nos completamos, tal como o mar e o céu, que sendo tão diferentes no fundo são iguais – essenciais à Vida. Angola não é um país de terceiro mundo, Angola é um país do mundo, que tem muito para oferecer e muito para receber, tal e qual como todos os outros. Se queres ir para Angola ser um herói, não vás, se queres ir para Angola “trocar dons” vai já amanhã.
Como dizia o meu querido e eterno amigo Padre Pires, um dos líderes e mentores do Voluntariado Passionista, a quem muito tenho a agradecer: Vais ajudar?! Então mas o Mundo também não é teu?! Tu não vais ajudar, tu vais colaborar porque é essa a tua obrigação!”.